segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Companheira


' Ela deitou-se. Fechou os olhos e tentou adormecer. Deu mil e sete voltas na cama, tirou os cobertores um por um, tirou as calças vermelhas do pijama, e enrolou-se em si própria. Não tinha calor, mas sentia-se sufocada. Voltou a fechar os olhos, e assim se deu mais uma tentativa frustrada de adormecer. Sentou-se sobre os lençóis, com as costas na parede e a almofada no colo. Ligou a musica e tentou canta-la. Sabia todas as palavras daquela música, mas de repente parecia que a letra tinha sido toda mudada e que ela já nada sabia. Manteve-se naquela posição durante alguns minutos. As músicas foram rodando e o tempo parecia não querer passar. Acabou por se deitar novamente e puxar os cobertores para si. Desta vez, tapou o pescoço e com as pernas entrelaçadas, fechou os olhos com tanta força, que por momentos pensou que eles não iam aguentar.
Ela sentiu-o com ela. Era a sua presença em forma de pensamento naquele quarto que não a deixava adormecer. Era com se ele estivesse a observar cada movimento dela, cada expressão facial, cada palavra, cada olhar para o vazio. Ela tentou abstrair-se de tudo o que a fazia permanecer acordada e pensativa. Mas por mais voltas que desse na cama, o seu pensamento seria sempre o mesmo, ele. Pensou em como seria se ele soubesse que era a personagem principal dos seus pensamentos.
Levantou-se lentamente e em gesto de curiosidade abriu a janela, deixando que a lua se mostrasse em todo o seu esplendor. Sentou-se no chão e aumentou o som da música. Contemplou a Lua com tudo o que tinha. Partilhou com ela as suas lágrimas, os seus medos, os seus sentimentos. Falou, falou e voltou a falar. Não sozinha, a Lua estava a ouvi-la em segredo.'







Lau.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

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''Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso. Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada. Penso em ti. Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto – aqui sentado, junto à janela fechada. Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria, e digo baixinho: Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge.''



[ Eu sei que era suposto ser qualquer coisa minha, mas achei delicioso :) ]





Lau.